Os baldios, enquanto conceito de propriedades comuns e das quais a comunidade usufruía para a pastagem dos animais, fizeram parte da história da freguesia do Gafanhão (atual União de Freguesias de Reriz e Gafanhão), no concelho de Castro Daire.

As mulheres, protegidas com a capucha, e os homens, com palheira e polainas de junco, subiam o monte, com tamancos e meias feitas a partir da lã de ovelha, que eram tricotadas ao serão.

Maria Emília Santos lembra-se de, ainda nova, ser enviada pelos pais para guardar o gado. “Nos dias soalheiros era tão bom andar lá na serra”, recorda, acrescentando que nesse período “a juventude juntava-se, entre brincadeiras”.

Sendo um território onde havia muitas cabeças de gado, o fato de ovelhas e cabras passarem o dia no monte ajudava a que não houvesse incêndios. Já a venda dos vitelos era usada para pagar impostos, como a Décima. Tendo em conta importância do setor, “não havia um palmo de terra que não estivesse cultivado”, garante. Essa realidade viria a mudar quando os mais velhos morreram e os mais jovens saíram, por não poderem governar-se.

Cova Grande, Chão do Passarinho, Alto da Portelada, Penedo Cântaro, Covinhas, Carvoal, Alto do Talegre, Fraga Soalheira e Fonte da Ana integram a toponímia dos baldios da freguesia.

Arlindo Pereira ainda chegou a ouvir contar que houve uma altura em que se quis fazer a partilha dos terrenos, mas as famílias mais pobres consideraram que iriam ser prejudicadas e a divisão não avançou, mantendo-se a sua importância para a alimentação dos rebanhos.

Ao toque do búzio, que assinalava a abertura das cortes, os animais subiam o monte, acompanhados pelas vigias, previamente definidas, até ao anoitecer.

Bernardo Pereira foi o principal impulsionador da formação do Conselho Diretivo, há mais de 20 anos. Maria Emília Santos fala de um homem bem-falante, com iniciativa, preocupado com o desenvolvimento da freguesia e que fez obra. Até então, nota, o usufruto dos baldios, que representam uma área significativa, era livre. Atualmente, o destino dos terrenos é gerido pela Junta de Freguesia local.