Documento audiovisual integrado no projeto “Da Serra para a Fábrica” da Binaural/Nodar e da Biblioteca Municipal de Castro Daire, o qual visa resgatar, pensar e expressar criativamente sobre as memórias da diáspora migrante para a zona oriental de Lisboa ao longo do século XX, com a particularidade de a maioria dessa gente ser oriunda da Beira Alta, nomeadamente dos concelhos de Castro Daire, Cinfães, Resende e São Pedro do Sul. O projeto faz parte da rede cultural “Where the city loses its name” co-financiada pelo Programa Europa Criativa e que junta a Binaural/Nodar, os parceiros espanhóis/catalães da LaFundició e os romenos da Fundatia AltArt.

Victor Pereira nasceu em Lisboa em 1967 sendo filho de pais oriundos da serra do Montemuro que rumaram para a zona oriental de Lisboa em busca de uma vida melhor. Não tendo vivido na primeira pessoa o ambiente fabril da zona de Marvila, este beirão-alfacinha viveu a sua infância no Bairro Chinês, no qual diz foi verdadeiramente feliz e descreve com um pendor quase filosófico como o “ser da terra” incorpora valores quase esquecidos como a bondade, a gentileza e a comunicação franca. Na sua profissão de “industrial de táxi”, uma das atividades de eleição de muitos beirões em Lisboa, Victor Pereira intui matizes, tendências e contradições do mundo citadino, como a gente bem vestida e apressada que trata o taxista como uma máquina, ao invés de outra gente mais humilde, quase sempre de origem rural, que não se coíbe de dizer quem é, de onde vem e para onde vai.

Entrevista a Victor Pereira realizada por Susana Rocha no dia 26 de fevereiro de 2015 em Marvila (Lisboa). Edição audiovisual de Nely Ferreira.