Carlos Manuel Tavares Duarte, nasceu a 27 de junho de 1966 na aldeia de Campia concelho de Vouzela. Apesar dos seus pais na época já possuirem um negócio próprio, como as pessoas tinham muito pouco poder de compra naqueles anos, considera que teve uma infância de trabalho, ligada sobretudo à agricultura, à criação e trato do gado.

Da sua infância recorda com carinho que a coisa que mais gosto lhe dava era “ir ao moinho”, não só pelo trabalho em si, mas pela oportunidade em fazer algumas “brincadeiras”. Era nas terras que a população se juntava para conviver e, por isso, o “ir ao moinho” era a oportunidade ideal para ver o rio, as águas a correr e para muitos, namoriscar. Apesar de já não ser do “seu tempo”, conta que haviam pessoas que iam de propósito de Campia de cima ao rio com um molho de erva às costas e pelo caminho, nas chamadas “pedras para descansar”, pousavam a erva e aproveitavam para namorar as raparigas da aldeia.

Relembra que na aldeia de Campia todas as famílias tinham um carro de vacas e que este era na altura considerado como “o bem essencial da casa” chegando mesmo a ser “partilha de herança” entre várias gerações. Relembra o quão inteligentes eram as vacas e algumas das peripécias que passou com elas na sua infância.

Fala com orgulho da sua aldeia e de como existiam várias artes um pouco por toda a freguesia. Explica-nos como era antigamente feito o ciclo do centeio e quais as diferenças para hoje em dia. Recorda a razão pela qual o centeio deixou de ser produzido por volta da década de oitenta e como uma brincadeira entre um grupo de amigos, fez retomar uma tradição tão característica da aldeia de Campia.

Falou do seu pai e do seu tio António e das suas aptidões nomeadamente na carpintaria. Aptidões essas que provavelmente herdou dos seus familiares pois chegou mesmo a fazer uma “canga” para uma junta de vacas.

Conta que estes iniciaram o seu negócio de venda pela necessidade de escoar o vinho americano que na altura produziam. Pouco a pouco abriram a mercearia que ainda hoje existe, onde vendiam de tudo um pouco. Era o vidro cujo o fornecedor entregava apenas duas vezes por ano, ferramentas, petróleo, tintas em pó, mel, azeite, massas, arroz e açúcar a granel, até mesmo caixões feitos inicialmente pelo seu tio António.
Diz-nos que antigamente tudo era aproveitado, todas as embalagens eram recicladas, chegando ao ponto de uma mera garrafa de Coca-cola poder ser um objeto de herança de pais para filhos.

Entrevista a Carlos Duarte conduzida por Liliana Silva. Captação de imagem e som por Liliana Silva a 23 de Janeiro de 2020. Editado por Liliana Silva.