Nascido a 28 de março de 1941, em Rebordinho, Abílio Pereira da Silva perdeu a mãe quando ia fazer sete anos e foi criado pelos tios, numa época em que a alimentação, mais frugal, incluía caldo, uma batatas solteiras e carne de porco nas casas onde havia.
Naquele tempo, lembra, os animais andavam soltos pela rua, não havia asfalto ou calçada, as crianças corriam descalças, não havia telefone, internet ou mesmo luz, e as pessoas acendiam um pau de pinheiro para poderem aluminar o caminho.
Aos 14 anos, nas suas palavras, pôs-se ‘nas alhetas’, para o Brasil, onde tinha um tio. Embarcou no navio a 12 de fevereiro de 1956, em Lisboa, e chegou no dia 25, ao Rio de Janeiro.
Ficou alojado, com o tio e um irmão deste, num quarto com três camas e duas máquinas de costura. Vendiam para uma alfaiataria de luxo, confecionando peças por medida. Aos 16 anos já ganhava para si, mas só mais tarde se permitiu a alguns gastos mais supérfluos.
Viveu, durante os 21 anos em terras de Vera Cruz, “tudo o que tinha a viver. Não ficaram saudades”, garante.
De regresso a Portugal, apareceu a oportunidade de ir até à Líbia, onde foi aprender o ofício da construção civil. Quando o contrato acabou, passado ano e meio, voltou.
A próxima paragem seria na Austrália, para onde foi ilegalmente. Quando os colegas foram detidos devido a esta situação, achou que era melhor sair. Mais tarde, uma senhora que tinha reparado em si ligou-lhe e decidiu voltar. Casaram e Abílio Pereira da Silva conseguiu os papéis. Naturalizou-se australiano e lá permaneceu durante 30 anos. Ainda hoje, frisa, era lá que gostava de ter permanecido.