Ana Carvalho, de 50 anos, residente em Ameixas – Paços de Vilharigues – Vouzela, recorda uma infância feliz e em que, apesar de não ser perfeita, nunca faltou nada, nem a si nem ao seu irmão. Os pais já eram assalariados e praticava-se uma agricultura de subsistência, com os animais a serem criados para consumo. A família vivia numa casa humilde, mas já com iluminação e água canalizada. A televisão e o telefone fixo vieram mais tarde. As crianças iam a pé para a escola e juntavam-se no povo para brincar. Para se distrair, gostava de ler, “por ser uma forma de entrar noutros mundos”.
Após terminar o 12º ano, concorreu para a universidade, um sonho que o pai acalentava. Ana Carvalho candidatou-se a Psicologia, mas não entrou e, com a desilusão, decidiu casar, em dezembro de 1992, e ir para a Suíça, para o cantão alemão, onde o namorado já vivia. Chegou em janeiro seguinte, com 20 anos. Começou por trabalhar na restauração, num hotel, um desafio exigente, com contratos de nove meses, sendo o inverno passado em Portugal. Ana Carvalho garante que se sentiu integrada, mas que não tem “alma de emigrante”. Hoje entende que não teria maturidade, embora tenha havido outros entraves, como a língua e a distância da família e dos amigos.

Entretanto, decidiu voltar a estudar e entrou em História, através da Universidade Aberta. E também nasceram os seus dois filhos, em 97 e 99. Nesse mesmo ano, decidiu regressar a Portugal, uma mudança que não foi bem vista pelo então marido e que iria levar, algum tempo depois, à separação.

Em 2008, tentou novamente a Suíça, mas nem ela nem os filhos foram felizes. A língua, o excesso de regras, o stress para estacionar e o receio constante de incomodar não ajudaram e o amor pelo seu país falou mais alto do que o dinheiro. “Aqui sinto-me em casa”, afirma, garantindo que para trás ficou “uma experiência muito boa”.