A vida do campo era uma luta constante. Se hoje as alfaias agrícolas são mecanizadas, épocas houve em que o trabalho se fazia à força de braços. Helena Tojal recorda esses tempos, em que ainda de madrugada se ia para os terrenos ou para a serra, com o almoço na canastra transportada à cabeça, apoiada na rodilha, e tapada com uma toalha de linho bem branca. Uns feijões cozidos com couves, carne de porco da salgadeira, umas batatas, um pouco de presunto, por vezes, e queijo faziam parte do sustento.

“A vida era difícil e árdua”, lembra. De inverno, arranjava-se o estrume para os currais; e em março avançava-se com as sementeiras e plantações, que culminavam com as colheitas pelo São Miguel. Ao longo do ano, era preciso “roçar, lavrar, apanhar carradas de tojos com o podão, ir buscar o feno ao monte e dar de comer às vacas”. No regresso a casa, trazia-se “um molhinho de lenha à cabeça”.

Era dos campos que vinha a base alimentar, como o feijão, o milho, as cebolas, o centeio, as batatas e o vinho. A acompanhar, dividia-se “uma sardinha salgada para dois” ou matava-se o porco para consumo de casa e que tinha de dar para o ano todo.

As casas eram tipicamente beirãs, constituídas por dois pisos, servindo o inferior de abrigo para os animas e o superior dedicado à família. Os caminhos da aldeia, mal-arranjados, percorriam-se a pé ou em carros de vacas, que eram a principal forma de transporte e serviam para auxiliar no trabalho do campo. Tal como as ovelhas, as cabras e os coelhos, que se “vendiam na feira para comprar o enxoval aos filhos”, ajudavam no sustento da família.

Helena Tojal estudou até à quarta classe, ainda não tinha nove anos, altura em que foi trabalhar para casa. Quando os irmãos partiram para o estrangeiro, ficou a cuidar dos pais, que, entretanto, também emigraram para o Brasil, seguindo as pisadas de alguns familiares. Criou seis filhos e ajudou ainda a tomar conta da avó.

Apesar das dificuldades, recorda que “éramos todos alegres e unidos”.