Nascido numa família de seis irmãos, José Francisco completou a quarta classe em Covas – Fornelo do Monte com 12 anos, e nas horas livres saía para o pasto para guardar as ovelhas e as cabras.

No ano seguinte, já partia em direção a Lisboa, para trabalhar na construção civil, e, posteriormente, na seca do bacalhau, onde ficou até cumprir o serviço militar e ser chamado à Guerra do Ultramar.

Na volta, conseguiu trabalho como motorista de pesados, mas a doença da esposa fez com que tivesse de ficar mais perto de casa e voltou à agricultura, um setor que lhe permitia cuidar também dos dois filhos. Comprou terrenos e estabeleceu-se como negociante de vacas, regressando às origens.

Neste testemunho, José Francisco fala-nos ainda do pai, António Francisco Portela, que era ferreiro. Em frente a sua casa, no meio do povo, encontrava-se uma tenda grande, que lhe servia de oficina, onde aos serões se juntava muita gente à conversa, a consertar os tamancos ou a rogar-lhe um ou outro serviço. Aqui chegava gente de Ventosa, Cambra, de Fornelo do Monte e não só.

Entre os trabalhos que fazia estavam os bordeados metálicos que ajustava aos rodados dos carros de vacas, essenciais para o transporte das alfaias, dos fenos, dos cereais e das próprias pessoas. Após medir o diâmetro das rodas com recurso a uma roldana, cortava os lastros de ferro – que comprava no armazém ou nas lojas de materiais – mais pequenos do que a madeira e dobrava-os até fazer arco.

Conforme conta, a matéria-prima era, de seguida, caldeada para aquecer, com a ajuda do fole que atiçava as brasas, batida até faltarem dois dedos de diferença e depois arrefecida com água para dar o aperto necessário. “Ficava à tabela e tinha-se um carro para durar anos”, explica José Francisco, acrescentando que “quando se agastava, bastava dar um novo reaperto”.

Podões, sacholas e tamancos estavam também entre os artigos que ajudou o pai a fazer, embora não lhe tenha seguido o ofício.