Celeste Carvalho viveu uma infância bastante feliz na aldeia de Rocas – Sever do Vouga, onde aprendeu, desde cedo, com os pais, a importância do trabalho. A ligação a Lafões surge mais tarde, quando veio estudar para São Pedro do Sul, e cimentou-se após o casamento, altura em que passou a residir em Vouzela.
Apreciadora de gastronomia e de produtos endógenos, despertou-lhe a atenção o Pastel de Vouzela, que diziam ser conventual, apesar de não haver registos de um convento ou freiras na vila. Este foi o ponto de partida para começar, em 2014, a fazer a pesquisa para criar a Rota do Pastel de Vouzela, um percurso com 12 pontos de interesse, que arranca no Largo do Convento, onde uma casa extensa e estreita, onde albergavam pessoas necessitadas, pode ter dado origem à toponímia.
Entre os locais de passagem estão ainda as casas onde se foram fazendo os afamados pastéis ao longo do tempo, desde a casa mãe, onde nasceram Ana Augusta e Maria da Ascensão – as manas “Cardosas” –, que foram, no século XIX, para o Convento de Santa Clara, no Porto, aí aprendendo a fazer a doçaria conventual que traziam para a vila quando vinham visitar a família.
O património arquitetónico-religioso está também associado a esta rota, pois para quem fazia os pastéis, e tendo em conta a particularidade do folhado, a única saída era para ir à igreja. O mesmo acontece com a Central de Camionagem, antiga estação ferroviária, que era um ponto de venda e de expedição de doçaria, que seguia devidamente protegida.
Conforme nos conta Celeste Carvalho, os segredos têm permanecido em família ou entre amigos muito chegados – até aos três produtores atuais –, quando a iguaria era essencial para criar os filhos e conseguir singrar na vida. Não é de surpreender, portanto, que sejam muitas as estórias e curiosidades que envolvem o próprio Pastel de Vouzela, que deu origem a um livro, em 2017, e a um museu particular na Casa das Ameias.
Ex-libris da doçaria da região, trata-se de “um pastel delicado, muito leve” e feito com amor, por mãos divinas. “São especiais por serem diferentes”, garante.