Henrique Seixas Gomes nasceu em 1936, na Ameixiosa – São Martinho das Moitas, no concelho de São Pedro do Sul, no seio de uma família de três irmãos e que tinha duas juntas de vacas.

Os primeiros anos foram marcados por uma infância difícil, com algumas carências, pois a agricultura era a principal forma de sustento, à qual se juntava a pesca no rio Paiva, que tinha também um peso importante na alimentação e uma profunda relação com a comunidade.

Bom aluno, frequentou a Escola de Sequeiros até à 3ª classe. Mais tarde, fez o serviço militar obrigatório e casou, em 1967, na Capela da Ameixiosa, seguindo-se o copo de água, servido em casa. Quando, no entanto, partiu para Angola, a esposa ficou na aldeia.

Henrique Seixas recorda que fez a viagem com um primo de Ester, numa época de grande emigração, e encontrou “um país muito rico, mas com um nível de vida barato”. Além de experiências no comércio, trabalhou na refinaria das Companhias do Petróleo.

Apesar de manter contato com a família por carta, as saudades de casa fizeram com que regressasse, em 1974, numa altura em que tinha “os pais já com alguma idade”, mas não encontrou grande mudança na terra que o viu nascer.

Foi, no entanto, com o 25 de abril, que se operaram as maiores transformações, nomeadamente em termos de acessos rodoviários e, mais tarde, com a rede de água e a eletricidade, instalada em 1984.

Henrique Seixas recorda que foi um período “bom”, tendo em conta que o povo “estava um bocado oprimido”, “mas desperdiçou-se muito, gastou-se demais”. A notícia chegou-lhe “pela rádio” e repercutiu-se em “muito entusiasmo” e expectativa.

A criação da Comunidade Local dos Baldios dos Lugares de Sete Fontes, Sequeiros, Nodar e Ameixiosa, em 1985, é outro dos temas abordado no testemunho, com o responsável a falar dos primeiros trabalhos feitos, nomeadamente com o arranjo de regos de regadio e de caminhos. O fato de as povoações terem uma grande área de baldios e de o dinheiro, gerido na altura pela Junta de Freguesia, nem sempre se traduzir em investimento nas respetivas aldeias, levou à constituição do organismo, explica, garantindo que, ainda hoje, esta solução é bem aceite.

Uma parte dos terrenos está alugada à Portucel, outra é dedicada à pastorícia e há ainda uma área de exploração florestal, que, no conjunto, produzem “uma receita razoável”.

O dinheiro que se consegue, garante o morador, tem de ser gasto de acordo com a vontade dos habitantes, e “as pequenas discussões fazem parte” do processo.

Os negócios com o gado na Feira de Parada, as zaragatas, os bailes na aldeia, as contradanças marcadas por José Gomes, conhecido por José Varandas, e a festa anual em honra de Santa Catarina, no segundo domingo de junho e que atrai muitos romeiros, estão também entre as partilhas feitas por Henrique Seixas.