Hermínia de Jesus nasceu em 1924, em Vale de Papas, na serra do Montemuro, no concelho de Cinfães do Douro. Como era comum naquela época, o parto foi feito em casa, no meio do povo, com a ajuda de uma senhora da aldeia.

Crescendo no seio de uma família com seis irmãos, não foi à escola e, desde cedo, começou a acompanhar os pais na pastorícia ou a fazer os recados que lhe dessem.

Mais tarde, com 12 anos, acompanhou a irmã para Ovadas de Cima, no município vizinho de Resende, quando esta se casou e ali constituiu família.

Aos 15 anos, voltou a reunir-se com a família, já em Sequeiros, para onde o seu pai veio fabricar umas terras.

Aqui viria a conhecer o marido e a casar, aos 18 anos. Dia de festa, a cunhada fez-lhe um fato azul, matou-se uma vitela, e foi a cavalo até São Martinho das Moitas, onde foi celebrada a cerimónia.

“Havia muita miséria e não havia dinheiro. Mas havia muitos bailes e alegria”, nota Hermínia de Jesus, que entoa uma das cantigas que acompanham os trabalhos no campo:

Seitoura, seitourinha

Por esse vale fora

Quando chegardes ao cabo

Seitourinha vai embora.

 

Não me chameis para a segada

Que eu não sei talhar o leite

Chamai-me para namorar

Que eu pra isso dou jeito.

No seu testemunho, a idosa fala ainda das dificuldades no acesso à saúde e em como essa limitação era colmatada com mezinhas caseiras, superstições e rezas.