Lucília Mendes, natural de Pereiras de Bodiosa – Viseu, regressou aos estudos após ter tido outras aprendizagens na Ilha Terceira, nos Açores, em 1968. Como queria “ir mais além”, fez o Magistério Primário e tirou o curso de professora do Ensino Básico. Entre as suas experiências estão as saídas, em grupo, “para ajudar nas aldeias a limpar as ruas, os tanques e as fontes”.

Com uma “educação rigorosa, com muitos princípios”, cresceu como “filha de um revolucionário”. “O meu pai era um defensor dos mais pobres, que comiam à sua mesa. Isso marcou-me”, recorda, explicando que este ficava revoltado com o regime “por ter de dar uma parte do trabalho e ficar sem nada”.

A docente estava no último ano da sua formação quando se deu o 25 de abril. A caminho da escola, alguém lhe sai ao caminho e comenta: “Ai menina! Esta noite foi uma revolução em Lisboa”. A expectativa era grande e nesse dia já não houve aulas, conta.

Esse período ficou marcado por alguma instabilidade, com sedes dos partidos atacadas, muita agitação e manifestações na rua. “Mexeu sempre connosco. Foram 48 anos que estivemos afastados da democracia”, salienta.

Lucília Mendes recorda que havia repressões – liam poemas à porta de casa dos pais e lançavam foguetes – e ainda sofreu algumas na escola. “Abaixo os comunistas”, escreveu-lhe um aluno na parede.

Apesar das várias fases vividas e de nem toda a gente ter aceitado bem, a professora realça que “foi uma mudança muito grande”, nomeadamente ao nível da liberdade de expressão e em termos culturais, uma área que sempre lhe foi cara.

A política viria também a fazer parte da sua vida, através do marido, Joaquim Mendes, que chegou a ser Presidente da Junta de Queirã, para onde o casal se mudou 11 anos após o casamento. “Viveu e morreu pelos outros, mesmo prejudicando a vida familiar”, nota, acrescentando que, ao longo de duas décadas, aceitou, apoiou e ajudou o melhor que pôde este percurso.

Já em termos profissionais, Lucília Mendes começou a dar aulas em Deilão, na freguesia de Covas do Rio, concelho de São Pedro do Sul. “Nem uma bicicleta de pedal lá ia. Era um lugar sacrificante”, recorda, acrescentando que ali ficou um mês, até ingressar na Telescola, um sistema de ensino que deu “cultura a gente rural”.

Depois de 24 anos a lecionar em Caria – São Miguel do Mato – Vouzela, terminou o tempo de serviço na Escola de Quintela e de Carvalhal do Estanho. Todas fecharam com a sua saída.