Um misto de memórias e afectos aviva-se quando Maria Alzira Lourenço, de 71, residente em Póvoa de Codeçais – Fornelo do Monte – Vouzela, pega nas peúgas de lã e nas agulhas com que antes se teciam os agasalhos neste material.

“Estas meias eram do meu avô paterno e foram-me dadas pela minha avó no dia do funeral da minha mãe, em Dezembro de 1976. Envolve estas três pessoas de quem guardo muito boas recordações”, conta.

Estes exemplares, recorda, “foram feitos com a lã de ovelhas castanhas e lã normal”, tendo a sua avó preparado os novelos com o fuso e feito as meias com cinco agulhas.

Numa economia circular, onde o linho, a lã e os recursos endógenos eram muito valorizados, esta era uma prática comum. “Em menina também tinha meias de lã, mas não gostava porque dizia que me picavam, e uns tabecos (tamancos)”, lembra.

Já do avô recorda a figura elegante, culta, de poucas palavras, observadora e austera, sem esquecer a lupa com que religiosamente lia o jornal e que Maria Alzira Lourenço fazia questão de surripiar sempre que possível, por achar curioso o potencial aumentativo.

“Tenho saudades. É uma nostalgia mas, ao mesmo tempo, guardo as meias com carinho”, conclui.