Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.

Isabel Maria Lourenço do Soito nasceu na freguesia de Santa Maria, concelho de Viseu a 15 de Março de 1965. Apesar de atualmente não viver em Várzea de Calde, considera a apicultura um complemento à sua principal atividade de trabalho.

Iniciou esta atividade há cerca de sete anos com apenas duas colmeias, após a realização de um curso de apicultura em Várzea de Calde. Confessa que apesar do seu avô já ser apicultor, o gosto por esta atividade surgiu apenas após a realização do curso.

Atualmente dispõe de cerca de catorze colmeias, situadas numa encosta, habitualmente viradas a sul, de forma a que dê “o sol praticamente todo o dia”. Um dos motivos pelos quais escolhe estes locais, está também relacionado com o tipo de plantas que lá existe. Os locais de eleição para Isabel do Soito são onde há uma maior quantidade de urze e de rosmaninho. Segundo ela, o trabalho de um apicultor não se resume a uma época, mas sim a um ano inteiro de trabalho. Refere que logo no mês de Janeiro é necessário “curar” as colmeias e alimentar as abelhas, sobretudo se o tempo nesse ano for mais frio, de forma a garantir que estas não morrem.

No entanto, a cura e alimentação às abelhas não pode ultrapassar o mês de Fevereiro. Em Março, caso ainda haja alguns restos de de cura e/ou alimentação dentro da colmeia, tem de ser deitado tudo fora “porque elas começam a ir às flores tirar o pólen, para fazerem o mel, e por isso não podem haver nem remédios, nem alimentos na colmeia (…)” para que este fique nas melhores condições.

Diz que entre os meses de Abril, Maio, Junho e Julho, as abelhas “põem mel e preparam-no”. Julho, é por norma o mês em que o apicultor retira o mel. Uma colheita que se prolonga até Setembro, sendo estes os meses ideais para o apicultor retirar os quadros e as alças e, consequentemente, limpar e fazer uma nova cura.

Como os meses de Setembro e Outubro são mais propícios à existência de “muitos bichos”, refere que são os ideias para a realização desta nova cura. Já durante o inverno, até Dezembro, diz que os principais cuidados a ter é o de ir controlando, nomeadamente “(…) pondo comer para elas não morrerem até chegar a Janeiro”. Isabel do Soito explica ainda nesta mesma entrevista a forma como são atualmente feitas as colmeias.

Entrevista realizada por Manuela Barile em 29 de julho de 2018.