Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.

Enquanto algumas mulheres lavam e coram as meadas de linho, conversamos com Virgínia Maurício sobre algumas plantas e dos seus usos, assim como de pessoas que se destacaram por terem conhecimentos mais específicos do que aqueles dos restantes habitantes. Havia um homem que sabia tratar dos partos das vacas, a quem chamavam o “veterinário da terra”, quiçá para o diferenciá-lo daqueles que tinham estudos formais. Era o “Ti Lopes”. A sua esposa, Bernardina Morgado e a sua filha também assistiam aos partos das mulheres, talento muito importante numa época em que “morriam muitas mulheres de parto”. “Elas sempre tinham uma palavra ou uma ação boa” e Virgínia sabe-o por experiência própria. A “Ti Bernardina” preparava xaropes, sabia de plantas, usava água benta que ela própria benzia e ainda mais: algumas pessoas recordam-na como a “Pitonisa”, pois com as suas palavras era capaz de prever factos e situações como a Terceira Guerra Mundial ou a Comunidade Económica Europeia e de falar de coisas que na sua época não existiam, como os cabos do telefone, uma estrada que chegaria até Cabrum e estradas com alcatrão.

Entrevista de Ana Rodríguez com Virgínia Lourenço Maurício (n. 1944).