Nas zonas rurais do centro-norte de Portugal (nomeadamente nos distritos da Guarda e de Viseu) mantém-se a tradição de, durante a Quaresma, celebrar-se a Ementa das Almas (O verbo ementar significa relembrar) ou também designado cantar às almas santas: uma estrutura de cânticos religiosos lentos, quase fúnebres, cujo significado é recordar as almas dos antepassados falecidos, pedindo o seu descanso eterno.

A Ementa das Almas é normalmente celebrada à noite, nalguns casos a partir das 22h00, noutros casos a partir da meia noite, consistindo num grupo de homens que se reúnem em vários grupos itinerantes para cantar em determinados locais da aldeia previamente acordados, aqueles em que as vozes se projetam a maior distância, podendo assim ser ouvidos em todas as casas.

O grupo tem regras estabelecidas. Durante os cânticos não podem ver ninguém da aldeia, nem serem vistos. Quem está em casa e ouve os cantos, deve parar de fazer o que está a fazer e rezar ou estando na cama, deve levantar-se e também rezar.

Quando se chega à Semana Santa, o grupo alarga-se às mulheres mulheres, sendo que o ritual, igualmente itinerante, passa a chamar-se de “Cantar os Martírios”, evocando os cânticos toda a paixão de Jesus Cristo, até à sua morte.

Registo de ensaio do cântico dos Martírios do Senhor durante a Semana Santa de 2017, pelas mulheres da aldeia de Calde (Município de Viseu). Gravado por Luís Costa e editado por Liliana Silva.