A freguesia de Calde no município de Viseu tem a fortuna de contar com uma extensa malha de fios de água que correm das nascentes situadas nos montes baldios em direção aos povoados, a outros ribeiros e ao rio Vouga. Em tempos idos, a única fonte e lavadouro da aldeia de Calde era a do largo do cruzeiro, bem junto aos campos e lameiros situados na parte mais baixa da aldeia. As habitantes Maria de Fátima Chaves e Maria de Lurdes Campos contam-nos como “a bica” e a “poça” estavam outrora localizadas noutro lugar do largo e que, dado o facto de não haver outras na aldeia, formavam-se filas de raparigas e mulheres à espera da sua vez com os seus cântaros de barro e mais tarde de plástico. A fonte era também o “jornal da aldeia”, onde as novidades, os boatos e os namoricos aconteciam ou se comentavam. Por outro lado, a “poça” era simultaneamente lavadouro e reserva de água para regar os campos situados nas imediações, sendo a água dirigida para um lado e para o outro, consoante o momento do dia. Maria de Fátima Chaves e Maria de Lurdes Campos contaram ainda que o sabão rosa ou azul era comprado na venda do Rouxinol e que a roupa depois de lavada era metida a corar ao sol nos lameiros situados junto à poça, sendo regada de vez em quando para que ficasse o mais branca possível.

Entrevista realizada por Luís Costa em 28 de fevereiro de 2022. Registo e edição audiovisual de Luís Costa.