As vidas de Alcina de Jesus e de António Brito Martins começaram com realidades bem diferentes: ele, natural de Melgaço – Viana do Castelo, estudou num seminário, onde ficou até aos 15 anos; enquanto ela, natural de Calde – Viseu, nasceu no seio de uma família pobre, de cinco irmãos, e foi criada pela avó até aos 8 anos.
Embora fosse a vontade dos pais, António sentia que não tinha vocação para a religião e cresceu revoltado por isso. Aos 15 anos pediu aos pais para sair da instituição e foi trabalhar nas oficinas de uma companhia mineira, ao mesmo tempo que fazia o curso de torneiro mecânico, à noite.
Já Alcina estudou até aos 10 anos, altura em que foi trabalhar para o Alentejo, para tratar da vinha. Uma realidade muito dura, que lhe roubou a juventude. Dois anos depois, ficou a servir em casa de uns senhores ricos da aldeia, uma experiência igualmente difícil; e aos 15 emigrou para França, para cuidar de uma criança, filha de um casal também da povoação.
Seria aqui que o destino iria juntá-los, uma vez que António, aos 24 anos, depois de cumprido o serviço militar, emigrou, clandestino.
Estiveram dez anos naquele país e foram depois para a Suíça, onde permaneceram outros 30, no cantão alemão.
“Em Portugal não se conseguia o que a gente queria. Não saíamos da cepa torta. Enquanto lá tínhamos um nível de vida diferente”, explica António Martins, salientando que os objetivos vão mudando, “os anos vão passando” e opta-se por ficar até à reforma.
O balanço, concordam, foi bastante positivo.