José Gonçalo e Virgínia de Jesus nasceram e foram criados em Várzea de Calde, onde viriam a enamorar-se e a constituir família.
A infância foi semelhante, com a necessidade de ajudar os pais, a guardar o gado ou a fabricar as terras, quando começavam a poder com a sachola. Feijão, couves e a carne do porco, que se matava uma ou das vezes por ano, eram a base da alimentação, que incluía ainda uns bocados de broa.
Já com duas filhas, José trabalhava na resina, mas “não se ganhava quase nada”. “Isto tem de ter rumo”, pensou, decidindo escrever ao seu irmão, que vivia em Angola, terra que também já tinha acolhido o seu pai durante seis anos. Com uma resposta positiva por parte deste, marcou a passagem para Luanda, tendo embarcado no navio Vera Cruz a 10 de março de 1964 e chegado oito dias depois.
Depois de uma experiência numa fazenda durante um mês, o emigrante fixou-se em Luanda e foi ter com o tenente Valentim Loureiro, que lhe arranjou lugar na padaria militar, onde ficou a ganhar um conto e quatrocentos por mês.
A esposa foi mais tarde, com as duas filhas, mas não se deu bem em termos de saúde e regressaram a Portugal, no paquete Príncipe Perfeito. Depois de ir beber à Fonte Santa, Virgínia achou-se melhor e voltaram a tentar a emigração, regressando já grávida do terceiro filho.
José Gonçalo foi trabalhar para os Correios e aproveitou uma vaga em Lobito, o que representou melhores condições de vida. No total, ele esteve 12 anos em Angola e a esposa seis, sentindo-se sempre acolhidos. “Onde estivesse éramos estimados”, notam.
A família viria a regressar à sua terra Natal, na sequência do 25 de abril de 1974, mas ainda hoje José sonha com aqueles tempos.