Nelson Fernandes cresceu em casa dos pais, uma boa habitação para a época, em Sanguinhedo de Côta – Viseu.

Trabalhava-se de sol a sol, com a força de braços a ser o principal motor, e vivia-se com algumas dificuldades, mas “havia muita alegria”. Uma desfolhada chegava a juntar meia centena de pessoas e na aldeia não faltava o bailarico, com a harmónica ou a gaita-de-beiços.
“Quando se ia para o trabalho, ia-se a cantar, quando se vinha, vinha-se a cantar”, recorda.
Terminado o serviço militar em Elvas, os seus quatro irmãos, que já estavam na zona de Paris, desafiavam-no. Nelson Fernandes meteu-se a caminho.

Com efeito, a viagem – que ouvimos na primeira pessoa – foi uma aventura. Apesar de não ter papéis, decidiu arriscar e entrou no comboio do emigrante. Como não tinha passaporte para apresentar à polícia, foi obrigado a descer em Vilar Formoso, e justificou que estava apenas a acompanhar a namorada. Já com pouca esperança e só tendo bilhete de regresso para Mangualde na manhã seguinte, viu o comboio que rumava para França a arrancar devagarinho e, no último instante, entrou, clandestino.

Mudou de visual, conseguiu contornar o controlo que já havia, e à chegada tinha os irmãos à sua espera, naquela que seria uma nova etapa. Já viria a completar 18 anos na capital francesa.

Ficou empregado numa empresa de construção civil e realizava trabalhos de cofragem em madeira. Embora a língua fosse um entrave, diz que “nas obras havia sempre portugueses”. Para amenizar saudades, mantinham-se as tradições da gastronomia lusa e acompanhavam-se as equipas nacionais de futebol nos jogos disputados na região.

Olhando para trás, não tem dúvidas de que “valeu a pena”.