Rosa Medeiros nasceu numa pequena casa do lugar de Pereira, em Castro Daire, no seio de uma família humilde de oito irmãos.

Concluiu a quarta classe, fazendo os deveres ainda à luz da candeia a petróleo. Sendo das filhas mais velhas, aos nove anos já tomava conta dos irmãos e ia para o Douro, pela vindima, trabalhar. Com 14, para ajudar no sustento da família, passou a ir para as azenhas de azeitona, no Fundão, onde tinha a responsabilidade de cozinhar para os trabalhadores. Aos 16, a professora da aldeia perguntou se queria ir servir, como doméstica, para sua casa.

E aí permaneceu até aos 19 anos, idade em que casou, a 22 de Abril de 1978. Mudou-se para Castro Daire durante nove meses, e nesse mesmo ano, a 1 de Dezembro, começou a trabalhar em Zermatt, na Suíça, onde, recorda, foi bem recebida. O marido acompanhou-a mais tarde.

Inicialmente, o objetivo passava por juntar dinheiro suficiente para construírem uma casa. O projeto avançou mas outros se lhe seguiram e a estadia prolongou-se. E, apesar das dificuldades que o casal sentiu – porque não conhecia a língua nem tinha qualquer elo de ligação –, Rosa Medeiros não esconde o gosto pelo país que a acolheu.

Eram tempos difíceis, em que poupar era a prioridade. O casal ficou alojado num quarto e fazia as refeições no hotel onde trabalhava. As primeiras viagens eram de comboio, acompanhados por um bom farnel; mais tarde de carrinha, depois em carro próprio e finalmente de avião.

Um ano após a sua chegada, Rosa Medeiros ficou grávida mas queria continuar a trabalhar. Tal como acontecia naquela época às mulheres e mães castrenses emigradas, o seu filho nasceu e permaneceu com os avós em Portugal. O bebé tinha 17 dias quando teve de regressar à Suíça porque os patrões precisavam de si para a passagem de ano.

Inicialmente vinha duas vezes por ano ao seu país mas a separação do filho, que só mais tarde percebeu a renúncia feita pelos pais, custava muito. Assim, agarrava-se às fotografias e à fé em Nossa Senhora para ter força.

O casal ficou em Zermatt até 1980, altura em que foi convidado para ingressar noutro projeto hoteleiro em Valbella , no cantão de Graubünden, onde permaneceu por sete anos. Como queriam ter mais um filho, decidiram pedir o permisso B – autorização de residência que é emitida para estrangeiros – que lhes permitiria ter o bebé consigo, uma prática com a qual o patrão não concordava.

Voltaram, assim, para Zermatt. Ao reformar-se, por invalidez, depois de colocar duas próteses nas ancas, o marido regressou a Portugal, há 24 anos. Rosa optou por permanecer na Suíça mais um ano mas as saudades falaram mais alto e, em 2002, decidiu retornar às origens, investindo num café e restaurante por baixo de sua casa. O espaço esteve seis anos aberto mas não singrou.

Como tinham ficado as boas relações com a governanta do hotel onde trabalhava e a emigrante sentia-se ainda com força para trabalhar, decidiu tentar mais uma vez.

O marido ia com frequência visitá-la e, nos períodos festivos, o filho também o acompanhava. Assim, Rosa Medeiros ficou mais 11 anos na Suíça, até regressar definitivamente.