00:00 [Apresentação] Alzira de Oliveira – nasceu em Nodar freguesia de São Martinho das Moitas – O pai era de Nodar e o avôs do Grijó – A mãe nasceu em Grijó e os pais dela eram de Nodar – O pai era Artur Duarte e a mãe era Ana de Oliveira –

00:49 [lembranças de Nodar] A vida era uma miséria, com 10 anos foi para a resina – quando chegava a casa ia trabalhar com o gado – o pai tinha mais amor a uns filhos que a outros ela era tratada como uma escrava – por vezes pedia ao pai 10 tostões para ir à feira em parada e lá ia toda contente para comprar um ? para a mãe – era uma miséria, andava a servir na casa dos patrões que era os Costa – casou- a sua madrinha que era a tia disse à sua mãe  que tirasse Alzira da casa de Rosalina porque ela não aprendia nada, que andava só a cheirar as cabras no cu? e não aprendia nada – a madrinha disse à mãe de Alzira que fosse para para Nodar, que a única coisa que lhe daria eram os brincos mas nunca lhos deu: os filhos da puta nunca apareceram – ficou para a consciência dela – foi para a resina e ? os brinquinhos – morava ao pé da patroa e por vezes ficava a olhar para lá e começava a chorar – passou para a casa da madrinha e meteu-se na cama e começou a cismar a cismar e não saía da cama – A madrinha disse à mãe de Alzira para a ir buscar porque ela não saía da cama – foi então para Outeiro e começou a comer –

03:10 [episódio em outeiro?] Uma vez disse ao padrinho, o Costa, que se ia embora e que levava uma chita de grelos e deu-lhe duas sardinhas para cozer com os grelos . ela pediu pão e o padrinho arrancou-lho da mão, queria que comesse a sardinha sem pão . O pai ouviu e perguntou-lhe o que se tinha passado, que o padrinho não queria que comesse a ceia completa – O pai disse lhe para mandar o padrinho para o caralho e que amanhã não voltaria lá – O pai depois disse-lhe para ela ir ter com eles e ela foi lá e perguntou pelo padrinho – a madrinha ordenou-lhe que começasse a peneirar a farinha para fazer o pão –

04:15[ peneirar a farinha] conta quando peneirou a farinha e quando deixou cair o tabuleiro com a farinha lá dentro . A madrinha deu-lhe com o tabuleiro na cara  – passou o diabo com aquela gente

04:43[fome] passou muita fome, andava a servir e decidiu ir para outro lado para governar a vida –

05:01 [trabalho]Andava lá um senhor a fazer a casa, o senhor Laurindo, ela ia para lá aos dias, para tirar a areia da Paiva e a passá-la às costas cá para cima, para o povo. Depois foi para a Gafanhão servir e dali a diante abriu os olhos e aprendeu a ser uma mulher. Quando foi para o Gafanhão tinha 22 anos e os pais ainda estavam em Nodar.

05:45 [Gafanhão]  (casamento)Quando foi servir para o Gafanhão conheceu o marido.  Antes de se casar teve uma filha de outro homem. Esse homem meteu-se com outra que era menor e Alzira ficou no curral. Criou a filha sem o bafo do pai, foi uma vida muito triste a que passou mas agora o que falta é saúde – Agora que tem de comer e beber é que não há saúde –

06:17 [irmãos ] Eram três. Do lado do pai eram mais. Os do lado da mãe eram o Augusto,, a Hermínia e Eu, que era a mais nova. Do lado do pai era o Laurindo, o pai da Clementina, o Laurentino e o Manel Quijó, que é casado em Alva. Do lado do pai eram três e do lado da mão era três também- O pai tinha-se casado com a irmã da mãe que morrera a dar à luz, a tia de Alzira que era irmão da mãe de Alzira. Depois o pai de Alzira ficara com os filhos pequenos e então foi ter com o avô de Alzira, um Alqueve, e disse -lhe :”ó tio António eu não sei o que hei-de fazer, como é que hei-de criar os pequenos” então o avô mandou lhe a outra filha Ana e lá se casaram.  Então a mãe de Alzira é que criou todos os irmãos de Alzira. E ainda criou três netos que eram os filhos do irmão mais velho de Alzira, o Laurindo.

08:00 [Quijó?] foi lá muitas vezes mas em pequena nunca tinha ido. Só lá foi depois de casar a filha porque ela tinha lá um café

08:20[O pai] O pai andava sempre por aquelas bandas, ia a pé para o bailes. Era mau com o dinheiro? o pai. Era como aquele que anda ali, o Zé, que para as dizer não estuda – o pai queria ir para os bailes, para Sequeiros. A tia Olívia de Alzira tinha lá uma cadela que se chamava cadela Viana(?) e eles mataram-lhe a cadela para tirar a pele para fazer um bombo para tocar. Juntavam-se no terminal do Paiva com o ? quijó ? e com o primo  Albano e o Alcindo. Iam para Sequeiros cantar e dançar mas depois a mãe e a prima Alzira e a prima Alcinda não queriam que ela fosse mais o pai porque eles todos juntos e com o pai a beber eram capazes de fazer barulho. O pai chegava a ter uma faca debaixo do colchão da cama. E a mãe trancava-o em casa para ele não ir para o baile mas ele saía por outro lado como quem vai para a ponte. Para levar salpicões – ?- para ir para o baile. Sabe lá o que a gente passou.

10:03 [a mãe] [tias] O nome das irmãs da mãe eram: Olívia a Prazeres. Tinha uma tia que era a Justina que estava em Reriz, o filho está lá para Lisboa. Quem sempre viveu com os avôs de Alzira foram a tia Olívia e a tia Prazeres, que era gémeas. As tias morreram muito tarde, a tia Olívia morreu em Lisboa quinze dias antes de fazer cem anos, a tia Prazeres morreu mais nova que era a caseira do Almeida  – tratavam-se por Manitos – a Emília casou com o tio António de Reriz – A Emília era a filha da tia Prazeres. A Carolina era a filha da tia Olívia – já morreram todas – a tia Prazeres tem só um filho que é o Jaime que está casado em Sequeiros com a Alice da Cancela.

11:35 [vida em Nodar] Levantava-se, ia buscar castanhas, comia um caldo em casa e ia com as vacas –  Apanhava comida para as vacas, lavava roupa no Paiva e à noite descansavam depois de ir buscar a lenha- diz que sempre foi a escrava, que a preferida do pai sempre foi filha que está hoje no Gafanhão. Essa nunca andou a servir, só saiu de casa quando foi para Lisboa . Agora teve azar porque arranjou um maluco de um homem que podia ser seu filho

12:45 [O padrinho] Era mau. Ia para o lado da Paiva arrancar milho . ele fazia duas partes a de cima e a de baixo. A de cima fazíamos nós e a de baixo faziam eles. A Alzira andava sempre a trabalhar com o Fernando, a apanhar castanhas. Com aquele calor ia para lá arrancar o milho e ele agarrava-se à terra cheia de pó e metia-se na água. Chegava a casa e bebia de mais e depois punha-se a cantar. A madrinha de Alzira era mais criada. Quando iam cascar o Milho o pai de Alzira dizia para o seu compadre que fosse buscar um bocado de pão, um vinho e um pouco de aguardente para dar-lhe a elas mas veio o fedelho (…) depois falta para a vacas, que as vacas eram ele que as traziam. A Alzira tinha uma burra grande. Quando iam partir o milho a madrinha da Alzira e a Alzira escolhiam as espigas melhores e estava sempre a abanar o caraitas do gigo para as espigas vingarem mais(…)

15:11 [milho ] num ano tinham lá o canastro no poço do canastro grande e tinham lá o seu milho. Mas quando iam buscar o milho a madrinha da Alzira estava la sentada a ver se a Alzira ia com o seu canastro da madrinha para o canastro dela e então perguntou-lhe para onde ia com o canastro dela e ela disse que ia para o seu canastro. A madrinha tinha ainda há pouco levado um canastro e já queria outro. Disse lhe que parecia impossível, que a ela não custava trabalhar mas custava à Alzira. O padrinho disse que a giga era de Alzira. Quando iam malhar o milho no moinho chegava-se lá o avô e dava lhe a chave para ela tirar o milho para malhar. A madrinha punha-se à janela para ver quanto milho é que ela levava. Se a mãe de Alzira levava uma quarta de milho ia a Parada para beber um cafezito ou um chocolatito ou para comprar um pouco de bacalhau. Ela punha-se à janela a ver a Alzira e de lá onde ela estava havia um lagar de vinho.

16:37[festas] [madrinha] Havia festas mas o padrinho e a madrinha de Alzira não eram de brincadeiras. Chamavam padreco ao Floriano (…) o ?? não chegava, iamos comprá-lo a ele. Ele não deixava trazer os grãos de milho, punha-o numa caixa em casa dele e quando a Alzira o ia buscar ele dava milho à madrinha. O pai de Alzira ia ao moinho para moer o milho. (…) ela ficava a ver da janela, ela ja sabia aquilo tudo

18:13[madrinha] a madrinha era má. A madrinha ia a cavalo para Sequeiros . O padrinho dizia para Alzira: olha lá vai a burra das patas brancas, referindo-se à Prazeres e à madrinha de Alzira.(…)

19:08[o mal que passou ] [festas] só ela sabe o mal que passou. Andava no pinhal para o lado da Ameixosa, uma vez foi a uma festa e foi uma bronca do caraitas. Foram à festa da Ameixosa mas a mãe de Alzira não foi. Pensava que o pai já tinha ido mas tinha ficado para trás. Chegaram e a malta foi-se toda embora. Quando chegou a casa a mãe perguntou-lhe pelo pai. Já tinha escurecido. Esperaram até que o foram procurar e o encontraram num pinhal. Iam a cantar para ver se o pai dava por elas, a mãe a irmã, Alzira e o irmão. Lá o encontraram no meio do pinhal deitado no chão. Depois a mãe disse para o seu compadre que tinha encontrado o marido Artur em Vale Caveiro e que estava com a gravata de fora. O padrinho disse para a madrinha que o Artur estava com a picha de fora

21:02 [Manuel] [Lisboa] foi para Lisboa e teve lá uma temporada até se ir embora por causa da coluna. Era motorista num armazém de vinhos. Teve dez anos em Lisboa – Um ano no Beato no Vasconcelos e depois foi para um armazém la no fundo das escadinhas ???? onde esteve até ir embora – no primeiro ano que esteve era só garrafas e no outro armazém era só pipas de 200 litros – ??? canteiros das tabernas – teve que agarrar pois passava lhe um pouco ao lado e então teve que agarrar um no outro ???, aquilo tombava e depois punha nos canteiros – vinha a descer a baixa e ??? filme e torneiras – ??? já tínhamos almoçado em casa – dava sempre uma gorjetazita – para se entreter era assim.

22:39 [Lisboa]no bairro chinês havia pessoal da zona, era feito de barracas. [Alzira fala]havia lá muita gente de Macieira, de Cinfães – [manuel] De vez em quando ia  à CP ver a bola , ao oriental – no verão ia para a cp mais os pequenos para ver a bola – (…) quando jogava o Benfica ia mais – ia muitas vezes à Luz – ia também ao Belenenses quando o Benfica jogava – Não gostava muito de ir com muita gente aos jogos porque (…) hoje a malta é escolhida nos campos antigamente a malta enfiava-se toda – (…) hoje já põe a malta separada antigamente era a malta toda misturada

24:23 [raso] comprou terras quando voltou de Lisboa com o dinheiro que ganhou. Nada herdou porque a mãe era pobre – tinha sido assaltado duas vezes em Lisboa

25:02[animais]tinham vacas e uma cabra para andar com as vacas