Entre 2008 e 2012 a Binaural/Nodar desenvolveu as primeiras fases do projeto educativo Aldeias Sonoras, o qual consiste na gravação, edição e mapeamento do património acústico de aldeias rurais em paralelo com alguns levantamentos geográficos, históricos e sócio-culturais e envolveu escolas básicas e secundárias de zonas rurais de montanha dos distritos de Viseu e de Aveiro.  O projeto pretende evidenciar a riqueza sonora do mundo rural português e a necessidade de o registar, envolvendo jovens nessa descoberta, promovendo em paralelo o sentido de identidade, de diversidade e de orgulho em viver no campo.

Na primavera de 2009, um grupo de estudantes da Escola Secundária de São Pedro do Sul percorreu algumas aldeias da serra de São Macário, entre as quais a do Fujaco, na freguesia de Sul. O Fujaco é uma típica aldeia de xisto, de encostas escarpadas e matizes pétreos acastanhados que dão ao núcleo urbano um carácter inigualável de suspensão no tempo e de ligação umbilical entre terra e comunidade.

Chegam as cabras da vigia, ou seja do pastoreio comunitário… o pastor assobia e rolam as pedras de xisto ao passar dos animais. “Bota cá, bota cá pra baixo. Acseeee, acseee, tch, tch, tch…” Um “rapazito” (na expressão da comunidade) de talvez sessenta anos é o pastor. Tantas vezes nestas aldeias escarpadas “rapazito” pode também ser sinónimo de um eterno solteiro no limiar da indigência, mas segurado pela comunidade com a atribuição do trabalho menos desejado (como é o de pastor), em troca de roupa, cama e comida, apenas. Ouve-se o som dos balidos das cabras que chegam aos currais vindas do cimo de uma encosta escarpada, descendo as vertentes e arrastando pequenas pedras de xisto, enquanto o pastor as vai orientando até aos currais.

Gravado por Gabriela Silva no dia 25 de abril de 2009 com um gravador digital Fostex FR-2LE e um microfone Audio-Technica AT-822.