“A ligação ao Vale da Mó criou raízes profundas em mim”. A afirmação mostra o impacto que a pequena localidade teve para Emília Heleno, 61 anos, que aí passava férias em casa dos avós maternos, que alugavam quartos a aquistas numa época em que “a oferta de alojamento não chegava para a procura”.
As amizades de infância que foram sendo solidificadas; a presença do histórico dirigente do Partido Comunista, Álvaro Cunhal, em finais da década de 1940, quando vivia na clandestinidade; e o ambiente que se vivia naquelas termas “muito concorridas” são outros dos aspetos partilhados.
Emília Heleno, que requalificou o património dos avós e fixou residência em Vale da Mó, recupera ainda a memória das varas feitas de acácias novas, um “ex-libris” nas décadas de 60/70 do século passado. Também conhecidos como “cacetes”, eram usados pelos aquistas como auxiliares nas passeatas feitas pela aldeia e arredores, “em ambiente de libertação e ar puro”, e personalizados ao gosto de cada um.
A moradora fala também da Capela de Nossa Senhora da Piedade e das ruínas do Convento das Ursulinas, mandado construir por senhoras devotas no início do século XVIII, a conselho dos seus padres e confessores jesuítas. Acredita-se que aqui surgiu a Barriga de Freira, um emblemático exemplar da doçaria conventual portuguesa.