A profissão de ferreiro desenvolveu-se quando as civilizações antigas aprenderam a dominar a arte do fogo para moldar os metais, há cerca de 4.000 anos atrás. O ofício de ferreiro foi, até há algumas décadas atrás, uma atividade absolutamente decisiva no mundo rural para a fabricação e arranjo de qualquer utensílio ou peça de metal, seja no contexto da arquitetura tradicional (dobradiças, fechaduras, cunhas, etc.), no contexto da atividade de pedreiro (utensílios, ponteiros, espigões), no contexto da atividade de serração (serras), no contexto caseiro (cutelaria, tesouras, pregos e outras ferramentas de uso corrente), no contexto agrícola (enxadas ou sacholas, foices, arados, cobertura das rodas de carros de vacas) e tantos outros.

Entrevistámos o último ferreiro tradicional do município de Viseu, o senhor César de Almeida Vilar, nascido a 22 de maio de 1946, na aldeia de Paraduça (freguesia de Calde). Sendo filho e neto de ferreiros, César Vilar mantinha em 2017 em funcionamento a oficina tradicional com mais de um século de existência. Esta oficina inclui o fole de ferreiro ou fole de forja, um grande aparato em cabedal (sanfona) colocado entre uma estrutura de madeira com um cabo que, ao ser movido para cima e para baixo, expulsa o ar e faz atiçar o fogo no forno do ferreiro. As peças a trabalhar são aproximadas ao fogo em brasa com o auxilio de tenazes, para que a temperatura elevada as façam moldáveis nas várias diversas formas. A bigorna é outro dos símbolos do ferreiro, um objeto pesado de metal com duas extremidades pontiagudas que é usado para malhar o metal. Finalmente, uma oficina de ferreiro inclui ainda uma pia de água onde os metais são “temperados”, ou seja depois de trabalhados a altas temperaturas, são imersos durante alguns segundos para que, no impacto com uma temperatura mais baixa, se estabilizem definitivamente as formas previamente moldadas.

César de Almeida Vilar descreve vários processos e ferramentas que ainda utiliza, nomeadamente o banco para picar foices (ou seitoiras), ou seja para criar a serra de corte com a ajuda de um cinzel e de um martelo, e a roda de malhar os aros de metal a aplicar nas rodas de carros de vacas. Antigamente o trabalho de ferreiro era pago muitas vezes com horas de trabalho (por exemplo na agricultura) ou com bens alimentares ou madeira, num sistema que podemos designar de troca direta, ou seja sem a intervenção de dinheiro.

A oficina de ferreiro da Aldeia de Paraduça começou, no ano de 2020, a ser objeto de transformação num núcleo museológico, através da iniciativa da Associação Social, Cultural, Desportiva e Recreativa de Paraduça, tendo o projeto obtido financiamento do Programa Viseu Cultura – Linha Revitalizar.

Entrevista a César de Almeida Vilar conduzida por Luís Costa, com apoio de José Fernandes (presidente da Junta de Freguesia de Calde), realizada em 9 de junho de 2017. Edição de Luís Costa.