Manuel da Silva Boloto assume um papel importante na manutenção dos usos e costumes em Ribafeita – Viseu, onde é sacristão há 23 anos. Nascido em Vale do Cão, na mesma freguesia, em 1944, conhece a Igreja de Nossa Senhora das Neves como a palma das suas mãos.

Desde pequeno que se habituou a vir com o seu avô materno e padrinho, que todas as sextas-feiras o trazia para o templo. Ainda antes de casar, foi membro da Ação Católica e, mais recentemente, fez um curso de cristandade, em Viseu.

A construção da Igreja remontará ao reinado de D. Pedro V e distingue-se pela riqueza da sua talha e a torre altaneira. No interior, à imagem da padroeira juntam-se as de São Pedro, Senhora dos Remédios, Beata Rita, São Francisco, Senhora do Rosário, Santo António, Mártir São Sebastião, Senhora das Dores, Santa Luzia, Senhora das Neves, Sagrado Coração de Jesus, São José, São Luís, Nossa Senhora de Fátima e Santa Bárbara.

Reza a lenda que, certo dia, e contra a vontade do povo, a Diocese quis levar um dos seus sinos, que tinha sido doado por um casal sem descendentes e dedicado a Nossa Senhora das Neves, para Viseu. Quando a estrutura chegou a Abraveses, transportada num carro de vacas, deixou de tocar e embora tenha chegado a ser instalada na Sé, não mais deu sinal. Quando foi deixado no Adro, a gente da aldeia veio por si e recuperou o sino, que voltou a tocar e a dar mais brilho às festividades.
O mesmo sino, que Manuel tocou pela primeira vez aos sete anos, era motivo para brincadeiras entre os mais novos. Hoje ouve-se antecipando ou durante as cerimónias religiosas e outros momentos festivos. E se em tempos se usavam cordas, atualmente rolam a ferro, produzindo um toque que os distingue face a outras aldeias e aos automáticos.

Além disso, cabe ao responsável acender as velas, pôr o missal, assegurar as hóstias para a consagração, tratar da iluminação e do sistema de som e ajudar, quando necessário, durante as celebrações.

Sucedendo no cargo a Anselmo Ferreira Martins e Alexandre Mateus Soromenho, o sacristão recorda, no seu testemunho, a passagem de diversos sacerdotes, como o atual Bispo da Guarda, Manuel da Rocha Felício; o Cónego Orlando Soares de Paiva, o Padre Amadeu Dias Ferreira, o Padre Manuel Moreira Matos e o Padre Eurico.

Os cuidados com o edifício, os rituais da Semana Santa, com a Procissão do Enterro; e a Festa de Nossa Senhora das Neves, cuja imagem se junta aos andores dos padroeiros de cada povoação devidamente enfeitados fazem também parte deste testemunho.

A igreja de Ribafeita está ligada à Beata Rita Amada de Jesus, nascida em Casalmendinho, em 1848, e aqui batizada no mesmo ano. Mostrou desde pequena uma grande fé e devoção pelos ensinamentos cristãos, o que lhe valeu contrariedades e até perseguições. Nunca deixou, no entanto, de lutar e fundou, aos 32 anos, na paróquia de Ribafeita, um colégio e, simultaneamente, o Instituto de Jesus Maria José, em 1880, ao serviço da dignidade humana.

Beatificada em 2006, é-lhe atribuído o milagre da cura de uma mulher que sofria de uma doença terminal, no Brasil.