A soenga é “um processo de cozedura ancestral”, conforme faz questão de realçar Jorge Ferreira, mestre oleiro de Ribolhos, aldeia do concelho de Castro Daire onde esta arte de trabalhar o barro é uma tradição secular e foi, durante muitos anos, um meio de subsistência imprescindível para a comunidade.

Após todo o ritual de extracção da argila e tratamento do barro, na roda e pelas mãos hábeis dos mestres é feita a moldagem das peças. Segue-se a respetiva secagem, por um período variável, de acordo com a época do ano e o correspondente grau de humidade do ar. Explica o mestre Jorge Ferreira que esta fase é determinante para assegurar que não haverá fissuras ou quebras durante a cozedura.
Todas as etapas exigem, aliás, cuidado e perfeição, mesmo a escolha dos materiais para a soenga. Na base da vala aberta no chão, de tamanho variável em função da quantidade de loiça, assenta-se tijoleira, onde vão ser empilhadas as peças que são ladeadas com caruma e fetos secos. Depois de ateado o fogo, o interior transforma-se numa fornalha.

“O forno é barato de fazer”, graceja o mestre, realçando que são deixadas algumas aberturas que funcionam como respiradouro, para que o fumo possa penetrar nas peças.

As giestas secas e a madeira de pinho, que mantêm a estrutura piramidal, alimentam o calor da fornalha. Quando a loiça adquire uma coloração laranja e atinge a temperatura máxima, a rondar os 900 graus, com recurso a uma enxada ou uma pá, o artesão cobre a soenga de forma hábil com caruma e terra, que é compactada sem deixar qualquer abertura.

O tempo de cozedura também é variável, nota o mestre, adiantando que cerca de duas horas são necessárias, sendo que pelo meio a combustão dos materiais resinosos gera a defumação que confere à loiça a tão caraterística coloração negra. Após o gradual arrefecimento da fornalha, geralmente no dia seguinte é feita a desmontagem, em que pode ver-se o resultado final.