Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.

Em Várzea de Calde, as plantas sempre se aproveitaram para fins medicinais – comenta Herculano Gonçalves – tanto para uso interno e fazer chás, como para uso externo como era o caso da erva esteporeira para “puxar as impurezas “ dos “furúnculos”. Antigamente não havia médicos de família na aldeia, por esse motivo “tinham que ir à natureza para procurar os medicamentos para se tratarem”. Podemos imaginar na época da infância de Herculano Gonçalves a existência de muitas plantas perto das casas, mantendo-se em hortas, jardins ou quintais, fossem elas plantas para comer, medicinais e para temperos: como uma classificação em termos de utilidade onde se misturam todas as necessidades da casa.

Herculano Gonçalves refere as plantas que se utilizavam, tanto as que plantava a sua mãe no quintal como as que traziam da serra ou de outros sítios, como os sabugueiros, que se encontravam em “terras mais retiradas”. Em maio apanhavam-se as flores de sabugueiro, as quais se secavam e se penduravam com um preguinho dentro da casa, nalguma sala com tabiques de madeira.

Herculano Gonçalves é também apicultor, pelo que nos descreve que plantas existentes na zona são melífluas, ou seja de quais se servem as abelhas e que características imprimem ao mel, como a cor intensa devido à abundância de urze e queirós. Na zona também abunda a carqueja, que não é melíflua mas que se apanha para venda, por exemplo para “farmácias”.

Entrevista de Ana Rodríguez com Herculano Duarte Gonçalves (n. 1941).