Os pais de Adelaide Campos, ambos naturais de Várzea de Calde – Viseu –, eram trabalhadores agrícolas e tinham uma junta de vacas. O pai também arrendava pinhais para sangrar a resina, enquanto as filhas ajudavam nas tarefas de casa.

A família semeava linho e o tear ficava numa salinha encostada à cozinha. Era ali que a sua mãe se “refugiava em todas as horas vagas”, quando fazia demasiado calor para ir para as terras ou chovia demasiado. “Tecia para casa” e das suas mãos saíam mantas e lençóis, entre outras peças.

Os serões eram aproveitados para fiar. Adelaide Campos ainda se lembra, inclusivamente, de ver a mãe, com a irmã, bebé de colo, a desempenhar a tarefa. Como a luz só chegou quando tinha cerca de 12 anos, usavam um lampião e lanternas para alumiar.

As meninas mais novas maçavam e fiavam os chascos, numa roca de menores dimensões. Aliás, o seu primeiro trabalho foi transformado num colchão, para encher com palha, que ficou para o seu enxoval. Como, entretanto, a peça entrou em desuso, viria a ser transformada em cortinados, alindados com um bordado e franjas de rabo de porco.

Em muitas noites, porém, a mãe de Adelaide não gostava que as filhas ficassem muito tempo a ouvir ‘aquelas conversas de gente adulta’, pelo que o seu pai ia com elas para o quarto e lia-lhes textos da Bíblia, que tinha herdado do seu próprio progenitor.

Só mais tarde, já aos 12 anos, quando vivia com a tia, Maria da Natividade, uma costureira de mão cheia, que fazia as camisas para todos os homens da aldeia e também as camisas domingueiras para mulheres, com os colarinhos de riscado; pôde participar nestes serões, fiando o linho.

Adelaide Campos viria a herdar muitas peças das tias e da sogra e garante que a qualidade das meadas, o saber trabalhar e o tecer do linho, que exigia mão firme, eram o brio das mulheres da aldeia.