Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.

Hernâni Ferreira Maurício nasceu em Várzea de Calde a 06 de novembro de 1961. Há cerca de sete anos ganhou o gosto pela apicultura, sendo que inicialmente não possuía qualquer tipo de experiência na área, a qual foi adquirindo através do gosto que foi ganhando em perceber a “forma delas (as abelhas) trabalharem”.

Apesar de ser para si um hobby, Hernâni Maurício possui atualmente quarenta e duas colmeias, espalhadas um pouco por toda a aldeia de Várzea de Calde.

A produção de mel ocorre em Portugal sobretudo na primavera e no verão. Segundo Hernâni Maurício, o ciclo da apicultura inicia-se sempre com a verificação do grau de limpeza do apiário, bem como com a troca dos quadros velhos por novos. Refere que nos meses de março e abril é recomendado colocar as “alças” e que as colmeias devem ser sempre colocadas “viradas ao nascente” e, preferencialmente, o mais perto possível de flores e plantas, entre elas urze, eucalipto, etc.

Para que o mel esteja nas melhores condições, refere que as colmeias devem ser constantemente acompanhadas pelo apicultor e as alças trocadas se necessário, até chegar à época de retirar o mel. Conforme outras atividades agrícolas, a apicultura requer a utilização de equipamento e ferramentas adequadas. Um dos equipamentos indispensáveis na apicultura, é segundo Hernâni Maurício o fato e as luvas para proteção do corpo e da cara. Já ao nível de instrumentos, este utiliza um alicate, para retirar os quadros da colmeia sempre que necessário, uma raspadeira para a limpar e o fumigador “para as abelhas ficarem mais calmas”.

No que concerne à longevidade das abelhas, Hernâni Maurício refere que a vida das abelhas é mais curta entre os meses de março a julho: “têm uma semana e meia de vida, no máximo quinze dias”. Em contrapartida, entre os meses de setembro a janeiro diz que podem, contrariamente aos anteriores, sobreviver durante meses “porque não trabalham, ficam só ali a guardar a casa (…)”.

Entrevista realizada e gravada por Manuela Barile em 6 de agosto de 2018 e editada por Liliana Silva.