Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.

Para Isabel do Souto e Leonel Oliveira, a apicultura é um gosto que já vem de há muitos ano a esta parte. A aldeia de Várzea de Calde, por possuir uma floresta muito vasta, é propícia à produção de mel. Apesar de a urze ser o maior alimento das abelhas na aldeia, o que caracteriza a cor escura do mel que lá é produzido, estas também usufruem de um conjunto de outras plantas em que a aldeia é igualmente rica, nomeadamente o rosmaninho, a flor de cerejeira, o sabugueiro, o carvalho, a oliveira, etc.

A apicultura é, segundo Leonel Oliveira, uma tradição que passou de geração em geração na sua família, onde até os avós do seu pai já tinham colmeias em cortiços. Antigamente, tal como acontece nos dias de hoje, esta arte era feita não apenas pelo gosto, mas também pelo lucro que poderia advir dela. O mel e a cera são muitas vezes vendidos pelos apicultores a pessoas oriundas de fora de Várzea de Calde, as quais o procuram por saberem da existência de mel de qualidade.

Isabel do Soito descreve as fases que o processo da apicultura exige ao longo do ano. Enumera-as a partir da extração do mel que, segundo ela, poderá ocorrer entre os meses de julho ou agosto. Refere que, dependendo do ano e da zona onde o mel está a ser produzido, esta extração poderá inclusivamente ocorrer uma ou duas vezes ao ano.

Isabel do Soito descreve ainda os nomes que são dados às diferentes partes de uma colmeia, nomeadamente as alças e o ninho, bem como a função de cada uma delas. Explica a importância que o ninho representa numa colmeia, sobretudo no que diz respeito à sobrevivência das abelhas nos meses mais frios do inverno.

Com o auxílio de um alicate e de um fumegador, Isabel e Leonel abrem uma das colmeias. Através da colmeia aberta foi possível demonstrar não só o aspeto das alças, com os diferentes níveis de produção de mel, como também a presença da abelha rainha. Apesar de ser difícil de conseguir distinguir a abelha rainha no meio de tantas outras semelhantes, esta caracteriza-se essencialmente pelo seu tamanho, ou seja, por ser “mais comprida, maior” comparativamente com as restantes.

Para além das colmeias apresentadas, foi ainda demonstrado como eram as antigas colmeias, ou seja, feitas de cortiça retirada dos sobreiros, denominadas consequentemente de cortiços e apresentadas as suas principais características.

Entrevista realizada por Manuela Barile em 2 de junho de 2017.