Os serões na casa de infância de Laura Filipe, habitante de Várzea de Calde – Viseu, juntavam duas famílias e eram aproveitados para fiar até por volta da meia-noite, à luz da candeia, com a fogueira acesa para combater os rigores do inverno. Como o linho no verão é mais áspero, o ciclo de cultivo respondia às estações do ano, conta-nos.

A sementeira acontecia nos fins de abril ou na primeira semana de maio. Depois de colhido pelas mulheres, ficava debaixo de uma carvalha, e era ripado pelos homens, que também o levavam ao rio com o carro de vacas.

Em março, aproveitava-se para pôr as meadas a corar. Já em junho, maçava-se e tascava-se, com a ajuda do calor que favorece a saída das cascas.

O processo de sedar e fiar na roca guardava-se para o inverno, enquanto o verão era melhor para tecer, pois “a teia abria melhor”.

“Urdia-se com estopa, pois não havia dinheiro para algodão e o fio do linho, só adubado com estrume dos animais, era mais resistente do que agora”, recorda, notando, ainda assim, que não calhava todos os anos igual, podendo ser mais branco ou amarelo e mais ou menos áspero.

O linho era dividido em três faces, que eram fiadas em separado. Depois passada a estopa e a estopinha no sedeiro, “sobrava a fibra, o linho melhor e mais fininho”, relata Laura Filipe, acrescentando que o tecido era usado nas camisas dos homens e nas toalhas para tapar a merenda que era levada para os campos. Já as camisas das senhoras, nota, eram de estopa, combinadas com riscado para os dias de festa.

Os tomentos (chascos) ficavam para os colchões, que se enchiam com palha.

Apesar de ser criada pela madrinha e de viver nos meandros do linho, diz que nunca lhe puxou para ser tecedeira. “Eu encho as canelas”, brincava.