Hermenegildo Gonçalves era um jovem e já ouvia os antepassados a lamentar que em julho/ agosto não tinham água para regar as culturas, nomeadamente o milho. Assim foi crescendo a ideia de fazerem “uma poça gigante para conservar água”, uma hipótese que lhe ficou “gravada” e que foi tomando forma quando, em 1989, foi eleito para a Assembleia de Freguesia de Calde, no município de Viseu.

Após o levantamento do número de agricultores – 99, foi feita uma apresentação para a criação de um sistema colectivo à Direcção Geral de Agricultura e Pescas do Centro, que indicou que que teria de ser constituída uma entidade para a sua gestão: a Junta de Agricultores do Regadio de Várzea de Calde. O processo burocrático foi andando e, em julho de 92, teve início o estudo prévio, numa altura em que Hermenegildo Gonçalves era secretário da Junta de Freguesia local, embora houvesse separação entre as duas entidades.

Como a obra representava um investimento de 1 milhão de euros e a comparticipação seria de 75 por cento, de modo a conseguir a restante verba foram feitas reuniões com a Câmara de Viseu e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, uma vez que a barragem também iria ter aproveitamento para apoio ao combate a incêndios. O projecto foi a concurso em 98 e a infraestrutura inaugurada em 2000.

Conforme explica o autarca, trata-se de uma barragem de terra zonada, com uma profundidade à cota de 26 metros e uma extensão de 130 metros do paredão, abrangendo a albufeira sete hectares de zona inundada. Além da freguesia de Calde, estende-se a Côta, Lordosa e Cepões.

A gestão é, então, feita pela Junta de Agricultores do Regadio de Várzea de Calde e pela DRAPC. Por outro lado, abrange 89 hidrantes, distribuídos por quatro núcleos com horários específicos, e 12 quilómetros de conduta enterrada que asseguram 107 hectares de rede de rega útil.

Embora o panorama agrícola tenha sido condicionado por factores como a emigração, que contribuiu para o envelhecimento populacional, e o impacto do javali, que levou ao abandono do cultivo, sobretudo do milho, a barragem assume um papel importante no apoio ao combate aos incêndios e no abastecimento de água na freguesia, através de um protocolo com a Câmara Municipal de Viseu.

Outro aspeto realçado por Hermenegildo Gonçalves – e que é “nos dias de hoje ainda mais premente do que aquando do seu planeamento” – é a importância que este equipamento representa em termos de preservação de água.