Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.

Nesta ocasião, percorremos com um pouco mais de profundidade a horta e jardim de Lúcia Ferreira, pequenos terrenos situados em redor de sua casa. Também aproveita o espaço de um vizinho com quem tem um acordo. Ela vai mencionando plantas de comer (batatas, favas, tomateiros, piri-piri, cebola, alhos, ervilhas, couve de nabiça, cenouras, alface, aipo, tremoço, etc.), árvores de fruto (macieira, pereira, laranjeiras, ameixoeira), plantas medicinais ou “chás” (limonete ou lúcia-lima, alecrim, malva, hipericão-do-gerês, erva cidreira, hortelã, celidónia, erva-de-são-roberto, mirtilo), de jardim (amêndoas da páscoa, crisante ou carvalhas – que dão flor na altura “dos mortos”, jarros, lírios, etc.).

Também vemos no jardim uma vassoura feita com plantas e a presença da arruda, para “afastar os ratos”. Há também oliveiras e Lúcia explica como se processa e o seu tempero da azeitona, para o qual usa outras plantas como laranja cortada, louro, alecrim, alho, sal, alternando com mudanças de água. Lúcia explica ainda de que plantas guarda as sementes e de quais compra covetes. Quanto às flores, às vezes trocam-nas entre as mulheres da aldeia: “quando uma não tem, a outra dá”.

Entrevista de Ana Rodríguez com Lúcia Fernandes Ferreira (n. 1949).